Análise dos aspectos psíquicos presentes na série “Adolescência”

A série “Adolescência” explora a trama de um assassinato cometido por Jamie, um garoto de 13 anos, a uma garota de sua escola, Katie. A saga percorre o momento da prisão do adolescente, bem como a investigação policial e psicológica acerca do caso. Além disso, a série enfatiza as consequências desse ato criminoso para o próprio personagem e sua família.  Iniciemos a análise da série “Adolescência” pela definição e exemplificação de alguns conceitos psicanalíticos fundamentais que aparecem nos comportamentos de Jamie, o personagem principal.  A Psicanálise estabelece o Complexo de Édipo como um dos processos emocionais que ocorrem na infância durante a formação do Eu, sendo caracterizado pelo conflito na tríade Eu – Objeto – Outro. Para um garoto, essa relação se dá no desejo pela mãe (objeto) e consequente rivalidade com o pai (outro; quem interdita a relação Eu-Objeto).  Um exemplo evidente da manifestação desse complexo se dá no caso clínico de Freud, “O  Pequeno Hans – Análise de uma fobia de um menino de cinco anos” (1909). Freud relata que Hans desperta um dia em lágrimas com medo de que sua mãe tivesse ido embora e, com isso, não poderia “mimar” mais com ela.  Quando mergulhava nesse sentimentalismo, sua mãe costumava levá-lo para a cama com ela. Esse trecho mostra o início da ansiedade de Hans ligada ao Complexo de Édipo, quando, para “mimar” com a mãe, deseja que seu pai se afaste.  Hans “demonstrava um grau de clareza incomum. Ele chamava atenção para o fato de que seu amor por seu pai entrava em conflito com sua hostilidade com ele, considerando-o como um rival junto de sua mãe; e censurava seu pai por não haver ainda chamado sua atenção para esse jogo de forças, fadado a culminar em ansiedade.” FREUD.  Hans suspeitava que tomar posse de sua mãe era uma ato proibido e se defrontara com a barreira contra o incesto.  Na série “Adolescência”, há uma provável frustração de Jamie ao sentir-se rejeitado pela mãe, que tinha como objeto de amor, o pai do garoto. Nessa relação, é provável que Katie fosse, para Jamie, a representação de sua mãe (a figura feminina da mãe é o primeiro objeto de amor do menino). Quando Katie escolhe se relacionar com outros meninos, Jamie não consegue lidar com a rejeição e mata Katie (matando também, simbolicamente, sua mãe).  Além disso, as pulsões também constituem um dos importantes fundamentos da Psicanálise, sendo caracterizadas como instintos que impulsionam o ser humano a fim de reduzir tensões internas. São elas: pulsão de vida (amor) e pulsão de morte (ódio).  Esse conceito é manifestado na falta de controle de impulsos de Jamie, que, a partir do sentimento de rejeição, sente ódio e mata Katie. Um outro processo que rege o comportamento de Jamie ao longo de toda a série é o Princípio do Prazer, que, segundo a teoria Psicanalítica, é um processo primário inconsciente que busca satisfação imediata do prazer. No entanto, a partir dos processos civilizatórios que estabelecem regras, valores éticos e morais, o Princípio de Prazer passa a ser substituído pelo Princípio de Realidade (processo secundário).  Na série, é possível ver com clareza a manifestação do Princípio do Prazer no comportamento descontrolado e agressivo de Jamie.  Ao matar Katie, o protagonista busca unicamente sanar a frustração gerada pelo sentimento de rejeição, demonstrando a satisfação da pulsão de morte (ódio).  Em adição, durante a conversa com a psicóloga, Jamie também demonstra sua falta de controle de impulsos e as características do processo primário. Inicialmente, o garoto tenta encantar a profissional, que, em um primeiro momento, demonstra intimidade e gentileza com Jamie. Porém, após o descontrole do personagem e sucessivas tentativas de intimidar a psicóloga, que provavelmente também representa para Jamie, sua mãe, ela retoma o controle da conversa. Entretanto, novamente, Jamie sente-se frustrado em seu narcisismo, transformando o amor em ódio.  Em última instância, o diálogo final dos pais de Jamie demonstra a culpa e frustração que sentem por terem falhado na criação do garoto e, consequentemente, terem de conviver com a dor de serem pais de um adolescente homicida e com características de perversão.  Texto escrito por: Luana Ranali de Carvalho Pinto; Tais Ranali de Carvalho Pinto

A resiliência e o Mal-estar na civilização

  por Taís R Carvalho Pinto   A resiliência é um conceito da física empregado para designar a capacidade de resistência de um material, ou seja, de retornar ao estado original após sofrer diferentes pressões. Esse conceito tem sido empregado também na área da saúde, para explicar a capacidade que algumas pessoas têm de se recuperar das adversidades da vida com mais facilidade que outras.   Em seu artigo “Projeto para uma psicologia científica” (1895), Freud explica que “o recalcamento é invariavelmente aplicado a ideias que despertam no ego um afeto penoso de desprazer”. Sendo assim, conforme vivemos situações aflitivas, nosso aparelho mental se mobiliza na tentativa de se autoproteger, utilizando para isso um recurso interno denominado mecanismo de defesa de afastamento/esquecimento da experiência penosa. No artigo “A interpretação dos sonhos” (1900), Freud segue explicando que “as atividades do aparelho psíquico são reguladas pelo esforço de evitar um acúmulo de excitação e de se manter, tanto quanto possível, sem excitação”, e que, “o acúmulo de excitação é vivido como desprazer, e coloca o aparelho em ação com vistas a repetir a vivência de satisfação, que envolveu um decréscimo de excitação e foi sentida como prazer”. Podemos pensar então, em um aparelho mental com um funcionamento autoprotetor, que daria condições à pessoa, diante das experiências desagradáveis da vida, de sobreviver sem grandes danos emocionais. Assim como nosso sistema imune reage a um agente agressor (vírus, bactéria, fungo ou trauma físico) protegendo o corpo, o aparelho mental faria sua função diante de experiências emocionais traumáticas. Existem traumas mais ou menos intensos, que dependem da percepção intrapsíquica, e não somente se relacionam com o evento externo. Dentre eles podemos destacar: o nascimento (nosso ou de irmãos), a descoberta da sexualidade pela criança, as mudanças corporais da adolescência, a separação dos pais, a perda de um ente querido, perda do emprego ou algo importante para a pessoa, a impotência diante de algumas situações, a velhice, além da violência psicológica ou física, acidentes e catástrofes. Cada um reagirá a esses eventos de forma distinta, conforme a capacidade do psiquismo de deter o evento traumático, ou seja, conforme sua capacidade de resiliência. A vida é árida, repleta de sofrimentos, decepções, perdas e experiências desagradáveis. Soma-se a tudo isso o processo civilizatório, que impõe ao homem regras de comportamento e de controle de impulsos instintuais à serviço de seus ideais culturais. É claro que para viver em sociedade o homem é obrigado a domar seus instintos agressivos e sexuais, mas é sabido que o custo é alto, e que “uma pessoa se torna neurótica porque não pode tolerar a frustração que a sociedade lhe impõe” (O mal-estar na civilização -1930). Mas, se o propósito da vida é a busca da felicidade, e a definição de felicidade para a psicanálise é a obtenção de prazer, o processo civilizatório estaria em oposição à nossa busca de prazer. Porém, curiosamente, só temos a percepção de um prazer intenso através da vivência de seu contraste, o desprazer. A estratégia criada pelo homem é se sentir feliz com o fato de ter sobrevivido ao sofrimento ou à infelicidade, e não de buscar o prazer como primeira alternativa. É parecido com o que “pensamos inconscientemente” quando nos deparamos com um acidente de trânsito: “Ainda bem que não foi comigo!”. Freud resume a nossa busca incessante por felicidade num mundo que não nos permite a vivência de felicidade dizendo: “Todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo”, e para isso, cada um utilizará a sua capacidade de resiliência. A percepção do funcionamento resiliente de uma pessoa pode ser observada ao longo do processo psicanalítico, quando circunstâncias desaforáveis surgem e mostram a capacidade ou incapacidade de sobreviver àquele evento, e é também observada no próprio processo de análise, composto pela dualidade dor X prazer do crescimento emocional.   Referências Bibliográficas:   Freud, S. (1895).  Projeto para uma psicologia científica. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, volume I. Rio de Janeiro – Editora Imago (3ª edição). Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, volume IV. Rio de Janeiro – Editora Imago (3ª edição). Freud, S. (1930). O mal-estar na civilização. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, volume XXI. Rio de Janeiro – Editora Imago (3ª edição).

O que estamos perseguindo com tanta pressa?

Por Luz Marina Toledo (Psicanalista) O que mais notamos no discurso das pessoas na pós-modernidade é que o tempo está passando rápido demais. Se colocarmos uma lupa em nosso cotidiano, veremos que a maioria das pessoas, em busca de “performar” cada vez melhor, duela consigo mesmo, acelerando a vida, vivendo no amanhã, sem saborear o hoje na ânsia de ser reconhecido por sempre procurar ultrapassar os seus limites. Parece que a humanidade está sofrendo dessa aceleração em busca do “que vem  depois”. Principalmente após do início da pandemia do COVID 19, a humanidade busca sair a qualquer preço desse caos de medo e privações. Percebo que somos obrigados a realizar diversas proezas. Sim, parece obrigação saber tudo o que se passa, assistir a série do momento, fazer atividades físicas, ter um bom desempenho em todos os setores da vida. Na academia, em busca do corpo perfeito, não queremos “perder tempo” para esperar os resultados, tomamos anabolizantes e outras drogas. Vamos nos divertir, precisamos registrar o “momento de felicidade”, então colocamos um filtro para ficar melhor. Quem nunca? E também temos que ficar “fuçando” as redes sociais  para medir se os outros estão mais felizes que nós. A necessidade de nos compararmos rouba toda a nossa energia. Apesar de acharmos que não, estamos nos comparando sim. Numa roda de conversa somos cobrados porque não vimos uma determinada série,  então na primeira oportunidade “maratonamos” para nunca mais ficarmos por fora. Perdemos o hábito prazeroso de saborear a cadência dos acontecimentos, tampouco assimilamos o que vemos, daqui um mês cai no esquecimento porque outras séries muito boas apareceram e nem nos lembramos da última. Desaprendemos a esperar, temos a sensação de falta de tempo crônica, que nos angustia e nos causa uma sensação de que estamos falhando porque não conseguimos dar conta de tudo.   A falha não é nossa, ninguém dá conta de tudo o tempo todo, quem dá conta está altamente estressado pagando uma conta cara com muita ansiedade e outros comprometimentos na saúde mental. Nosso cérebro acostumou-se com o modo comparação, vivemos em função de estar na frente, de saber antes, de entregar (novo verbete) sempre e por aí vai. Por não vivermos o hoje, estamos sempre de olho no futuro, que nem sabemos se o teremos, porque a humanidade vive na ilusão de que é imortal e o COVID 19 veio nos lembrar que sim, somos mortais! Como se fala: tapa na cara! Sem falarmos no risco de perder emprego ou no desemprego concretizado que nos rouba energia e também nos coloca no modo  constante de antecipação no amanhã. Estamos mergulhados nessa lógica perversa que em hipótese alguma admitimos falhar, tampouco sentir tristeza, que são condições humanas. Ouço muita na Clínica as pessoas muito incomodadas com o menor instante de ócio, como se estivessem “perdendo tempo”, e então perdem o prazer em não fazer nada. Existe uma autocobrança de estar sempre fazendo algo para ser produtivo. Todos os dias somos bombardeados por frases “positivas” do tipo: “seja a sua melhor versão”, “quem quer faz” e ainda “saia da sua zona de conforto”. O que fazem essas frases que parecem inocentes?  Acionam um sentimento chamado CULPA. E como é insuportável a dor desse sentimento, vamos a exaustão para dar a “nossa melhor versão”. Frases positivas não resolvem se tivermos questões anteriores para serem resolvidas que estão no nosso inconsciente. Essa positividade tóxica gera muita angústia porque se a pessoa não faz é porque não tem recursos psíquicos para fazer e não deve ser julgada. Nessa lógica de comparação e de alta performance, se algo não der certo,  as pessoas raciocinam assim: a culpa é sempre minha, eu que não dei o melhor de mim. Esse modo de pensar vale para o trabalho, para amigos e para relações amorosas. Vivemos então com uma culpa latente e geralmente esse sentimento se vira contra nós mesmos. Acabamos nos maltratando mais e extrapolando todos os nossos limites. Sem querer desanimar e sim alertar, com todos esses ingredientes  temos todas as condições internas para nos afastarmos de nossa humanidade e adoecer. O ser humano tem LIMITES  que deveriam ser respeitados em nome de nossa saúde emocional e física. Ansiedade é pouco. Noto que as pessoas estão num sentimento crônico de cansaço e de menos valia, em função desse “modo comparação” e do “modo tenho que fazer” tudo o tempo inteiro. E, se eu não tenho uma boa imagem de mim mesma, fatalmente não farei boas escolhas para mim e viverei na ânsia de me superar. Existem várias “receitas” para viver sem ansiedade, mas elas pouco falam nessa parafernália toda de autocobrança e performance. Ao contrário, as Redes Socias estão inundadas de frases bonitas que nos levam, inconscientemente, a nos cobrar mais e mais. Reparou nisso? Luz Marina Toledo é pedagoga, atuou durante 32 anos na educação pública do município de São Paulo e é psicanalista formada na Sociedade Paulista de Psicanálise @luzmarinapsicanalista

Adoção: uma reflexão a partir da psicanálise

Por Waldemar Junior A decisão para se adotar uma criança ou adolescente é a manifestação de um desejo que por vezes carrega motivações que parecem estar claras e serem suficientes para realização deste ato. Em tese, a adoção é um encontro perfeito entre quem deseja alguém que está esperando ser desejado. Mas sabemos que na adoção nem sempre esse encontro alcança uma resolução favorável. Algo sai do controle e provoca turbulências muitas vezes incontornáveis aos recursos detidos por qualquer das partes envolvidas. Em decorrência, muitas vezes o colapso do encontro é inevitável e a visão romântica da adoção cede lugar a experiências de muita frustração e sofrimento. A adoção é um processo. No caso, processo deve ser aqui entendido em sentido amplo e não apenas aquele que tramita no Judiciário e que se encerra com a sentença de adoção proferida pela autoridade judiciária. O processo de adoção se inicia antes mesmo da decisão de adotar, com o vislumbre desta possibilidade e o amadurecimento da ideia; passa pela tomada da decisão; pelo processo judicial e se estende pela pós-adoção. Todo esse processo tem como fim desejado possibilitar a formação de vínculos saudáveis entre adotantes e adotados. É diante da possibilidade de a adoção não vir a surtir o efeito desejado, ou ainda, não o estar surtindo, que a participação de profissionais capazes de promover uma intervenção qualificada se faz essencial. Entre alguns dos profissionais envolvidos na adoção, encontram-se assistentes sociais, promotores públicos, juízes, psicólogos, psicanalistas, entre outros. A atuação do psicanalista dentro do universo da adoção pode se dar tanto na clínica, como junto às equipes técnicas da Justiça da Infância e da Juventude, neste caso, se o psicanalista também possuir formação em psicologia. Há também a possibilidade de atuação junto aos grupos de apoio à adoção, cuja finalidade é a orientação de pais adotivos e pretendentes à adoção. As mais diversas questões relacionadas à adoção se beneficiam da escuta diferenciada propiciada pela psicanálise, pois é justamente no inconsciente que muitas vezes se encontram questões mal resolvidas que podem influenciar negativamente o sucesso da adoção. Trazer à consciência o recalcado e as fantasias e possibilitar sua interpretação e elaboração significa aumentar a possibilidade do estabelecimento de vínculos saudáveis e é exatamente disso que os pais e filhos adotivos precisam. Quando se trata de questões relativas à adoção não se pode esquecer que o novo par que se forma, em suas mais diversas composições, sucede um outro par. A adoção, portanto, sempre envolve: a criança ou adolescente, os pais adotivos ou pretendentes e uma parte pouco lembrada, que são os pais biológicos. Não existe adoção sem a entrega voluntária de um filho ou sem a perda do poder familiar determinada pela Justiça. O senso comum muitas vezes relega a importância dos pais biológicos na adoção, baseado no mito dos pais desumanos, considerados, neste caso, aqueles que entregam seu filho à adoção ou que perdem o poder familiar sobre este. Cabe aos profissionais que trabalham com adoção ir além desse pensamento minguado. Deve-se lembrar que vivemos em um país com enormes desigualdades sociais e que a entrega de um filho pode se sustentar em uma decisão dolorosa e indesejada. Também a perda do poder familiar pode romper um vínculo sem que se deseje. Além dos casos de maus-tratos, abandonos e abusos, a perda pode ocorrer, conforme explica Oliveira (2020), quando se verificar que a criança ou adolescente se encontra em situações de risco, como no caso da falta de saneamento básico, de moradia, de alimentação adequada. Novamente, deve-se destacar que moramos em um país com desigualdades sociais abissais e em muitas das vezes, o rompimento do vínculo com o filho pode ser algo que não se deseja. Sofrimento pode emergir e tornar necessária uma intervenção em que uma escuta profissional e humana seja fundamental para esses pais. A culpa, o luto, as somatizações e tudo o que recai sobre o Eu precisa de um continente. A psicanálise também encontra espaço no processo judicial da adoção, como abordagem utilizável por profissionais que nele atuam. Essa atuação é definida em norma legal, como no caso especificado no artigo 50, §3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. O referido dispositivo informa que a inscrição dos pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, realizada por técnicos da Justiça da Infância e da Juventude. A preparação psicossocial irá avaliar, entre outras coisas, as motivações dos postulantes para adotar, pois o artigo 43 do ECA informa que a adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e quando fundar-se em motivos legítimos. A escuta da psicanálise vai além do conteúdo manifesto e se torna fundamental para escutar aquilo que está latente no discurso dos pretendentes. Na clínica, a psicanálise também tem papel fundamental junto aos postulantes. As dúvidas na tomada de decisão para adoção, o entendimento e maturação das motivações, as angústias geradas em relação à demora do processo judicial, as angústias e medos em relação às entrevistas, as angústias que surgem diante da dificuldade da criação de vínculo com a criança ou adolescente ao longo do estágio de convivência, as frustrações decorrentes do indeferimento da adoção e, principalmente, o importante acompanhamento do luto do não poder gerar devido à esterilidade, possibilitam amplo espaço de intervenção pela psicanálise junto aos pretendentes. Assim também é com os pais adotivos. A psicanálise encontra campo para atuação e possibilita importante ajuda diante da dificuldade de identificação dos pais com o novo filho, diante da dificuldade para ‘sobreviver’ quando o filho testa os pais para saber se realmente será aceito e não incorrerá em novo abandono, diante das fantasias apavorantes em relação à hereditariedade do filho, diante do medo da revelação da adoção ao filho e de tudo o que se encontra escondido por detrás desse medo e das resistências encontradas que dificultam o estabelecimento da filiação sonhada. Há também importantes questões relativas às crianças e adolescentes colocados para adoção ou adotados. Eles passaram pelo rompimento do vínculo

Alienação Parental: O Amor Exilado

Por Fernando Savaglia Publicado na Revista psique Edição 43 A partir de sua grande experiência clínica com crianças, a psicanalista Françoise Dolto produziu extenso trabalho que traduziu em palavras toda a angústia de um filho atingido pela experiência da separação e a falta de comunicação entre pais em litígio. Em seu famoso livro Quando os Pais se Separam, a francesa, uma das fundadoras da Escola Freudiana de Paris, explicita de maneira clara e veemente os dolorosos malefícios causados pela desqualificação promovida por um dos genitores em relação ao outro na formação psíquica e afetiva da criança. Em 1985, o psiquiatra norte americano Richard Gardner descreveu e batizou de Síndrome da Alienação Parental (SAP) o processo pelo qual esta desqualificação é levada aos extremos, buscando alienar totalmente um dos genitores da vida da criança. Segundo o psiquiatra, ao promover uma programação sistemática, o alienador teria como objetivo o afastamento e o desencadeamento de afetos negativos do filho para com o outro genitor. Nos últimos anos porém, vários debates que dizem respeito às situações descritas por Gardner vêm brotando, principalmente entre psicoterapeutas e no meio jurídico brasileiro, trazendo à tona os efeitos da SAP. Para muitos alienados, a discussão representa um alento, nesta dolorosa experiência afetiva: o impedimento (respaldado pela justiça) de qualquer contato com os filhos. Infelizmente, os expedientes colocados em prática por alienadores para conseguir seus intentos extrapolam qualquer limite do bom senso e são lançados em detrimento das comprovadas conseqüências nocivas para as crianças, como atesta a jornalista Karla Mendes, vítima da alienação. “Meu pai e minha mãe se separaram quando eu tinha dois anos de idade e cresci ouvindo-a falar coisas horrorosas a respeito dele: que havia nos abandonado e que, inclusive, tentava agredi-la fisicamente. Passei toda a infância e adolescência vivendo uma farsa”. A jornalista explica que só foi retomar o contato com o pai e tomar consciência do processo da alienação quando saiu da casa da mãe, aos 19 anos. “Descobri que todas as histórias que ela havia me contado sobre ele e sua família nunca existiram. É muito doloroso saber que você foi obrigada a odiar uma pessoa e se sentir a filha de um ‘monstro’. Eu sofria muito, inclusive por acreditar que herdaria geneticamente coisas dele”. Karla explica que durante anos foi torturada terrivelmente pelos seus próprios questionamentos sobre a ausência do pai. “Sentia muita raiva, queria saber o porque fui nascer filha de uma pessoa como aquela. Tentava entender o que foi que eu havia feito para ele fazer isso comigo. Era um sentimento muito conflituoso, pois, ao mesmo tempo em que queria um afastamento total, sentia um vazio de não ter um pai de verdade”. Para sempre Especialista na questão da SAP, a psicanalista e mediadora forense Tamara Dias Brockhausen explica que a síndrome vai deixar marcas por toda a vida afetiva do indivíduo. “Atendo casos de crianças em que os pais estão em litígio. Às vezes, elas parecem absolutamente normais, mas por dentro estão devastadas. O saudável na infância é que se conviva com os dois genitores, até para que se tenha dois modelos e duas referências”. A psicóloga Denise Maria Perissini, que há muitos anos também estuda o assunto, aponta ainda outro aspecto prejudicial que observa constantemente no seu consultório. “Percebo que as pessoas que passaram por este processo na infância não conseguem desenvolver vínculos afetivos duradouros. Isso porque, geralmente, possuem uma tendência a desenvolver uma grande intolerância às frustrações”. Estudos indicam que indivíduos que sofreram da Síndrome da Alienação Parental podem ser mais propensos à depressão, suicídio, envolvimento com drogas e violência. Ainda que tenha retomado seu relacionamento com o pai, Karla Mendes revela: “sempre fica um buraco muito grande. Penso naquele sofrimento todo e como tudo poderia ter sido diferente. A sensação de ter sido rejeitada é muito dolorosa. Ainda mais sabendo que, na realidade, isto nunca aconteceu”. No Brasil assim como na maioria dos países, no caso de uma separação, uma esmagadora maioria de decisões judiciais determina a genitora como a guardiã do filho, o que explica no caso da SAP, a quantidade de casos relatados, nos quais a mãe se transforma no agente alienador. Porem, não são raros casos de pais, tios, tias, avós ou padrastos, assumindo consciente ou inconscientemente o papel de alienador. “Existe também a reação passiva da alienação. Alguns familiares percebem as atitudes insensatas do alienador, mas têm medo de interferir porque temem virar alvo de sua ira”, acrescenta Denise Perissini. “A alienação parental é um recurso que o individuo utiliza para induzir a criança a mudar a percepção dela em relação ao seu genitor. Porém, podemos dizer que este recurso só atinge o objetivo quando a criança passa a contribuir para agravar a situação e aí sim, se caracteriza a síndrome, que vem acompanhada de um conjunto de sintomas, entre eles as mudanças de afetos e a capacidade de exprimir emoções falsas”, ressalta. O alienador As razões que levam alguém a se colocar como alienador são inúmeras, entre elas, inconformismo em relação à separação, não concordar com os termos de divisão de bens ou da guarda, ciúmes, vingança ou mesmo sofrer de psicopatologias. Muitos casos de alienação seguem um padrão recorrente, como observa Denise Perissini. “Na etapa inicial da SAP a criança ainda gosta do pai e sente vontade de conviver com ele e com sua família, mas já começa a absorver as mensagens pejorativas que a mãe emite”. O nível intermediário, de acordo com a observação da psicoterapeuta, seria aquele em que a criança ainda tem um laço afetivo com o genitor, porem ao absorver os sentimentos da mãe, acaba desenvolvendo uma ambivalência em relação aos afetos. “Ela começa a evitar o contato com o pai. A criança já não faz questão de ficar com ele e passa a arrumar compromissos para fugir dos encontros”. Na etapa mais avançada e grave, a criança acaba desenvolvendo aversão ao genitor. Este doloroso processo vem sendo vivenciado pelo professor O. M., que há 18 meses, não tem contato com a filha. “Eu e

Entrevista de Taís Ranali de Carvalho Pinto para a Revista Psique/ Março de 2015

PSICANÁLISE, A CIÊNCIA DO INCONSCIENTE Por: Aline Queiroz Fotos: Andrea Lira A psicanalista Taís Ranali de Carvalho Pinto contextualiza a questão psicanalítica, a partir da Análise Leiga, e os desafios que profissionais da área enfrentam nos consultórios e na educação O criador da Psicanálise, Sigmund Freud, acreditava que essa ciência deveria ser autônoma, ou seja, independente da área médica, mas, principalmente, da Psicologia e da Psiquiatria, pois poderia se tornar uma subárea dessas. Logo, qualquer pessoa interessada poderia estudar Psicanálise, mesmo sem possuir um grau universitário. Antes dá Segunda Guerra Mundial, já existiam psicanalistas não médicos e esses números foram crescendo cada vez mais. O termo Análise Leiga apareceu, pela primeira vez, em um artigo escrito por Freud, em 1926, quando um de seus membros não médicos foi acusado de charlatanismo, nos tribunais de Viena. Nele, defendia que qualquer psicanalista precisa de uma formação específica e que essa é, justamente, o oposto do que se aprende nas faculdades de Medicina ou Psicologia. Além disso, grandes personagens do cenário psicanalítico eram analistas não médicos e alguns não possuíam grau universitário, como Melanie Klein, Anna Freud, Hanns Sachs, Ernest Kris, James e Alix Strachey, August Aichorn e Joan Riviere. Baseado nesse contexto, Taís Ranali de Carvalho Pinto, formada em Biologia e, posteriormente, em Psicanálise, há 18 anos, pela Sociedade Paulista de Psicanálise, na qual é a atual presidente e docente, explica alguns critérios e a posição da Psicanálise no século XXI. Para ela, todos os cursos de Psicanálise devem seguir o tripé deixado por Freud: formação teórico-técnica, análise pessoal e supervisão de pacientes, sendo a mais importante, a segunda: “costumo dizer aos meus alunos que a análise individual é, além de uma importante forma de tratamento para suas próprias perturbações mentais, a sua primeira prática clínica”. Apesar de existir preconceito e resistências de pessoas que julgam a Psicanálise como “coisa de louco”, ela está expandindo para diferentes áreas, como escolas, teatros, empresas e hospitais, levando benefícios e método de investigação e de tratamento da mente humana. Aline Queiroz é jornalista e colaborou com esta publicação. Como partiu da biologia para a psicanálise? Taís Ranali de Caravalho Pinto: comecei a formação em Psicanálise e minha análise pessoal ainda muito cedo, quando cursava a faculdade de Biologia. Formei-me psicanalista e bióloga no mesmo ano, mas ainda não podia atender pacientes por não estar tão “avançada” na análise como estava nos estudos. Então, trabalhei por um tempo como bióloga e depois escolhi a profissão de psicanalista. Acredito que ter adquirido o conhecimento psicanalítico e ter passado por análise tão jovem me ajudou a fazer boas escolhas. O que é Análise Leiga? Como e porque Freud criou esse termo? Taís – Análise Leiga é a praticada por não médicos. Freud publicou o artigo A Questão da Análise Leiga, em 1926, após uma acusação de charlatanismo contra um membro não médico da Sociedade Psicanalítica de Viena, que vinha praticando a Psicanálise. Nessa época, já existiam divergências de opinião sobre se a Psicanálise poderia ser praticada por não médicos ou não. Freud aproveitou para esclarecer essa questão, definindo que charlatão não é aquele que trata um paciente sem ser médico, como diz a lei, mas “aquele que efetua um tratamento sem possuir o conhecimento e a capacidade necessários para tanto”. Portanto, olhando o outro lado da moeda, ter diploma médico e não ter a formação exigida para exercer a Psicanálise pode ser considerado charlatanismo. A verdade é que ninguém deve praticar a Psicanálise e nem qualquer outra atividade profissional se não tiver adquirido a capacidade de fazê-lo por meio de uma formação específica. Como é a formação psicanalítica da Sociedade Paulista de Psicanálise (SPP)? Taís – Na SPP, seguimos o tripé legado por Freud: formação teórico-técnica, análise pessoal e supervisão de pacientes. A Psicanálise é a ciência do inconsciente e, para exercê-la, é necessário que o aspirante a psicanalista se submeta, ele próprio, à análise para que adquira suas próprias convicções a respeito da vida psíquica. Somente conhecimento teórico não é suficiente para formar um bom psicanalista. Depois de efetuadas as duas primeiras etapas da formação, o recém-formado deve iniciar o processo de atendimento de pacientes, supervisionado por um psicanalista experiente. Ainda assim, deverá continuar com a análise pessoal por mais algum tempo, pois enfrentará problemas e novidades no decorrer de sua nova profissão. O que um curso de Psicanálise deve fornecer aos alunos? Taís – Um curso de formação em Psicanálise deve fornecer aos alunos um sólido conhecimento psicanalítico, iniciando com Freud, criador da Psicanálise, e passando por importantes personagens do cenário psicanalítico pós-Segunda Guerra, como Melanie Klein, Bion, Winnicott, Lacan e autores contemporâneos, como Otto Kernberg, que faz sua contribuição ao entendimento de pacientes borderline, transtorno não es- tudado por Freud e muito presente nos dias de hoje, entre outros. Dessa forma, o aluno terá uma visão geral de como se desenvolveu a Psicanálise em vários países e quais foram as contribuições mais importantes. Outras matérias importantes são também Filosofia, Sociologia e Neurociência. Quais as “qualidades” que uma pessoa precisa ter para ser psicanalista? Taís – Para ser psicanalista é necessária uma formação séria e de qualidade, com professores e analistas capacitados. Mas o ponto alto da formação psicanalítica é, sem dúvida, a análise pessoal, pois, como diz Freud, “é o melhor meio de formar uma opinião sobre sua aptidão pessoal para o desempenho de sua exigente profissão”. Sabemos ser impossível tratar de um paciente sem estar com o emocional equilibra- do pelo processo psicanalítico. A prática clínica é o terreno da expressão da singularidade dos processos mentais inconscientes e, para entendê-los, é necessário experimentar na própria pele. Costumo dizer aos meus alunos que a análise individual é, além de uma importante forma de tratamento para suas próprias perturbações mentais, a sua primeira prática clínica. É no consultório do seu psicanalista que o aluno verá como a “mágica” acontece. Você atua na área psicanalítica há 18 nos. então, como analisa o avanço da psicanálise no brasil durante a última década? Qual o atual cenário da

A Arte do Cuidar – Para Guardar na Memória

Lançado em 2013, o livro A Arte do Cuidar – Para Guardar na Memória apresenta uma reflexão delicada e emocionante sobre a doença de Alzheimer. Escrito pela psicanalista e docente da Sociedade Paulista de Psicanálise, Vera Muller e pelo psicoterapeuta André Toso, a obra aborda as relações dentro das famílias que convivem com portadores da patologia. Nesse relato autobiográfico as histórias são compartilhadas de maneira franca, ressaltando a importância das coisas simples do dia a dia e explicitando a possibilidade de autoconhecimento que as experiências propiciam aos cuidadores.    

Você está ficando louco?

A incapacidade de dar sentido nos eventos que permeiam o nosso cotidiano, pode ser considerada a maior fonte de ansiedade que um ser humano experiencia na vida Coluna publicada na Revista Psique 72 – Dezembro de 2011Por Fernando Savaglia No intervalo de poucos meses, cinco pessoas de distintas formações, profissões e histórias de vida, que não se conheciam dispararam, em meio às suas respectivas crises existenciais, uma mesma pergunta para mim: você acha que estou ficando louco?Como psicanalista percebo claramente uma espécie de epidemia deste temor, que se não pode ser categorizado – pelo menos não nesses casos específicos, como uma lissofobia (medo de enlouquecer) – é, sem dúvida, um dos mais poderosos sintomas das contemporâneas psicopatologias do início de milênio.Dada a subjetividade do que o conceito de “loucura” provoca, me permito utilizar a nosologia da Psicanálise, que divide os seres humanos em neuróticos e psicóticos. Nessa abordagem, o “louco” seria aquele indivíduo portador de lesão nos tecidos cerebrais ou de uma clivagem psíquica que dariam origem às psicoses, como esquizofrenia e/ou paranoia. A ciência ainda não pode apontar com precisão como se dá a gênese destas doenças, porém sabe-se hoje que é uma liberação exagerada da dopamina pelo cérebro que dá o start às crises agudas.Ainda segundo a Psicanálise, as neuroses, entre elas a lissofobia, seriam a proteção contra a perda do controle total, o que funcionaria como um fusível que evitaria que o sistema elétrico de uma casa (no caso nosso cérebro) entrasse em colapso.Essa sensação de estar ficando louco é na verdade a liberação exagerada de um hormônio – responsável por nos deixar alerta contra algo que põe nossa integridade em risco – chamado cortisol. Junte-se a isto a incapacidade do cérebro de dar um significado ao evento, ao constatar a falta de um objeto real a ser temido. A este desconforto causado pelo estranho evento psíquico chamamos de crise de ansiedade ou crise de angústia.Na visão da Psicanálise, ainda que inconscientemente afetos se acumulem e sejam os responsáveis pelo aparecimento da ansiedade, nosso computador, que fica entre as nossas orelhas, não teria como acessar esta parte do HD, restando à pessoa viver o processo sem conseguir simboliza-lo ou dar um sentido ao fenômeno. Isso explica as pavorosas angústias provenientes de crises de ansiedade, inclusive a falsa sensação de estar “pirando”.Devido à arquitetura do nosso cérebro capaz de criar mais perguntas que respostas, a falta de sentido é de longe o maior gerador de ansiedade que um ser humano pode vivenciar, seja na busca de um macro ou de um micro significado, isto é, desde atribuir uma lógica a um sintoma até buscar um sentido para a própria existência. O processo é reforçado ainda por uma sociedade em que se valoriza a busca e geração do maior número de estímulos em forma de informações. É natural assim, que nos deparemos com inúmeras situações onde precisamos fazer escolhas no menor tempo possível, e que, em não raras vezes, mal temos tempo de significar ou dar a elas um real sentido. Importante frisar que toda escolha, por mais insignificante que possa parecer, causa estresse. Não são poucos filósofos e profissionais psi que atribuem a descoberta de um sentido existencial à profilaxia para as angústias humanas. Pensadores como Heidegger e sua visão ontológica do existir, Viktor Frankl e sua Logoterapia, Winnicott, Gabriel Honoré Marcel e tantos outros ressaltaram a força determinante que o sentido exerce na existência humana. Modernos psicofármacos têm se mostrado eficientes em conter os sintomas, que tendem a ser retro alimentados pela própria ansiedade com que os pensamentos tentam dar, sem sucesso, um sentido a estas crises. Isto é, quanto mais eu tento desvendar como funciona o processo da ansiedade, mais eu não encontro respostas, o que, por sua vez, alimenta cada vez mais o desconforto.Gosto das palavras de Nichan Dichtchekenian, um dos mais brilhantes terapeutas existenciais do Brasil, que ao tratar do tema já agrega à angústia um porquê: “o pânico causado pela ansiedade nada mais é do que o prenúncio de uma transformação. É o anúncio de uma nova possibilidade de ser, no sentido em que efetivamente essa nova possibilidade anuncia um risco real que é o de eu abandonar a familiaridade em relação a quem eu já sou”.Se o fenômeno em si, da sensação de enlouquecer diante de uma ansiedade sem explicação, está acobertando um mal estar experimentado diante de um vazio existencial, é importante que ao atentarmos para a palavra “VAZIO” lembremos que qualquer ausência de conteúdo pressupõe espaço livre para ser preenchido com algo. Com o quê? Talvez esteja aí um dos sentidos da existência: descobrir o que pode preencher este vazio… Fernando Savaglia é Psicanalista didata, membro docente e coordenador do Núcleo Winnicott da Sociedade Paulista Psicanálise (SPP).